Poema da Coletânea:O Corpo Celeste
Pode esta ferida cicatrizar?
Meus olhos, cansados do mundo,
enxergam além da forma
e compreendem que o corpo
é apenas passagem,
nunca morada.
Nascer, crescer, envelhecer, morrer —
rituais da carne,
Tudo é breve,
tudo se desfaz
na respiração do tempo.
Dói, sim.
Mas a dor também ensina
a desapegar do visível
e a confiar no invisível.
Como mamãe dizia: tudo passa.
E passa mesmo —
o medo, o peso, o cansaço.
Só não passa o amor
quando se transforma em presença
além da ausência.
A saudade não é ferida,
é sinal de eternidade.
Ela não cicatriza
porque não nasceu para desaparecer,
mas para lembrar à alma
que houve encontro.
Ela mora nos quadros,
nos acordes,
nas lembranças que acendem luz
no silêncio dos dias.
E nos sonhos que tecem o invisível,
aprendemos que partir
não é o fim,
é apenas mudar de forma
dentro de Deus.
____Alba Simões

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