"...Durante toda a minha vida, entendi o amor como uma espécie de escravidão consentida. É mentira: a liberdade só existe quando ele está presente. Quem se entrega totalmente, quem se sente livre, ama o máximo. E quem ama o máximo, sente-se livre. Por causa disso, apesar de tudo que posso viver, fazer, descobrir, nada tem sentido. Espero que este tempo passe rápido, para que eu possa voltar à busca de mim mesma - encontrando um homem que me entenda, que não me faça sofrer. Mas que bobagem é essa que estou dizendo? No amor, ninguém pode machucar ninguém; cada um de nós é responsável por aquilo que sente, e não podemos culpar o outro por isso. Hoje estou convencida de que ninguém perde ninguém, porque ninguém possui ninguém. Essa é a verdadeira experiência da liberdade: ter a coisa mais importante do mundo, sem possuí-la..." " (...) tenho muitos comboios intactos na minha vida. um deles é o meu coração. também só brincava com ele quando o mundo colocava os carris, e nem sempre era o momento certo." (...)
Seguindo pelos penhascos dos medos, nos escombros dos sonhos...
Esquecemos nossa coragem, e ficamos desatentos nesta berlinda.
Onde o amor se perde cada vez mais e mais...
Protagonizamos glórias como heróis, mas vamos
sendo derrotados como bizarros fantoches de um sistema
cabotino, sagaz e hipócrita.
E ao acordar nos sentimos como números ou peças emperradas numa engrenagem gigante!
Por detrás das cortinas, ao retirar a máscara pesada, percebemos nossa grande e deprimente atuação.
Personagens aplaudidos pelas mãos que nos manipulam.
E isto é a vida?
Nada para além desta marcha, patrocinada pelas vitrines das ilusões?
No cotidiano dos controles, acordamos com o remoto nas mãos, e não percebemos que há vida lá fora.
Uma vida real, plena de possibilidades de nos humanizarmos...
Há belezas além destas fronteiras impostas, quase a nos robotizar...
E o tempo continua, sem freios...
Não há teclas Slow, ou pause na trajetória da vida!
Não podemos congelar a cena, então vamos vivê-las!
Da melhor maneira que pudermos.
Resgatar nossos verdadeiros sonhos, e arriscar todos os nossos sentidos!
Alegrias e tristezas certamente farão parte deste nosso percurso!
O maior desperdício consiste na triste acomodação de não pensarmos, agirmos e sermos tudo aquilo que realmente somos!
Alba Simões
Texto inspirado pelo filme: A Ilha
Sinopse: No futuro existe uma entidade utópica baseada na vida do século XX!, que procura recriá-la nos mínimos detalhes. Lincoln Six Echo (Ewan McGregor) vive nesta realidade e, como todos seus residentes, sonha em chegar em um local chamado "a ilha", o único ponto não contaminado do planeta. Após descobrir que todos os habitantes são clones, que possuem a única finalidade de fornecer partes de seu corpo para seres humanos reais, Lincoln decide escapar juntamente com Jordan Two Delta (Scarlett Johansson).
O corpo é descoberto enquanto uma fonte inesgotável de poder, enquanto máquina, sistema e disciplina. É simultaneamente dócil e frágil, algo possível de manipular e facilmente adestrável, enfim, suscetível de dominação.
Os Corpos Dóceis, em Vigiar e Punir, de Michel Foucault
As formas de controle.
Sobre as formas de controle, Foucault insere o conceito de horário como forma de controle, e que deve ser útil, ou seja, o corpo tem que seguir um padrão de horário a fim de se estabelecer prazos e limites para as produções do mesmo. “Tática, ordenamento espacial dos homens, taxinomia, espaço disciplinar dos seres naturais; quadro econômico, movimento regulado das riquezas.” (Foucault: 1995, p. 136). As mais diversas táticas de controle são aplicadas, o que faz com que um corpo destituído das marcas da cultura, um corpo exterior à história, é impensável.” Devido a um rigoroso processo de controle, os indivíduos são fabricados e tomados como objetos e agentes concomitantes. As mais variadas formas de controle passa-se a atuar em: classificar, observar, registrar e controlar tudo e todos num processo indefinido, levando até mesmo o “autor da arqueologia sobre o poder” (Foucault) a questionar: "Esta dificuldade - nosso embaraço em encontrar as formas de luta adequadas - não virá de que ainda ignoramos o que é poder ? Afinal de contas foi preciso esperar o século XIX para saber o que era exploração; mas talvez ainda não se saiba o que é poder. [...] Existe atualmente um grande desconhecido: quem exerce o poder ?" (FOUCAULT: 1992, p. 75). Para Foucault, as formas de controle, tem como conseqüência o poder irradiando-se como uma rede que permeia todo o corpo social, produzindo diferentes pontos ou como diz Foucault, “campos de forças” que perpassa todo o corpo/cotidiano social não sendo por isso, localizado num ponto central. O poder se constitui enquanto "relações de forças.” E, de forma que; é possível então perceber o sentido de suas análises sobre os mecanismos, as técnicas e tecnologias de poder em funcionamento por todo o corpo social.
Não lembro em que momento percebi que viver deveria ser uma permanente reinvenção de nós mesmos, para não morrermos soterrados na poesia da banalidade, embora pareça que ainda estamos vivos. Mas compreendi, num lampejo: então é isso, então é assim. Apesar dos medos, convém não ser demais fútil nem demais acomodada. Algumas vezes é preciso pegar o touro pelos chifres, mergulhar para depois ver o que acontece: porque a vida não tem de ser sorvida como uma taça que se esvazia, mas como o jarro que se renova a cada gole bebido.
Para reinventar-se é preciso pensar: isso aprendi muito cedo. Apalpar, no nevoeiro de quem somos, algo que pareça uma essência : isso, mais ou menos, sou eu. Isso é o que eu queria ser, acredito ser, quero me tornar ou já fui. Muita inquietação por baixo das águas do cotidiano. Mais cômodo seria ficar com o travesseiro sobre a cabeça e adotar o lema reconfortante : "Parar pra pensar, nem pensar !"
O problema é que quando menos se espera ele chega, o sorrateiro pensamento que nos faz parar. Pode ser no meio do shopping, no trânsito, na frente da tevê ou do computador. Simplesmente escovando os dentes. Ou na hora da droga, do sexo sem afeto, do desafeto, do rancor, da lamúria, da hesitação e da resignação.
Sem ter programado, a gente pára pra pensar. Pode ser um susto: como espiar de um berçário confortável para um corredor com mil possibilidades. Cada porta, uma escolha. Muitas vão se abrir para um nada ou para algum absurdo. Outras, para um jardim de promessas. Alguma, para a noite além da cerca. Hora de tirar os disfarces, aposentar as máscaras e reavaliar : reavaliar-se .
Pensar pede audácia, pois refletir é transgredir a ordem do superficial que nos pressiona tanto. Somos demasiado frívolos: buscamos o atordoamento das mil distrações, corremos de um lado a outro achando que somos grandes cumpridores de tarefas. Quando o primeiro dever seria de vez em quando parar e analisar: quem a gente é, o que fazemos com a nossa vida, o tempo, os amores. E com as obrigações também, é claro, pois não temos sempre cinco anos de idade, quando a prioridade absoluta é dormir abraçado no urso de pelúcia e prosseguir no sono, o sonho que afinal nessa idade ainda é a vida.
Mas pensar não é apenas a ameaça de enfrentar a alma no espelho: é sair para as varandas de si mesmo e olhar em torno, e quem sabe finalmente respirar. Compreender: somos inquilinos de algo bem maior do que o nosso pequeno segredo individual. É o poderoso ciclo da existência. Nele todos os desastres e toda a beleza têm significado como fases de um processo. Se nos escondemos num canto escuro abafando nossos questionamentos, não escutaremos o rumor do vento nas árvores do mundo. Nem compreenderemos que o prato das inevitáveis perdas pode pesar menos do que o dos possíveis ganhos. Os ganhos ou os danos dependem da perspectiva e possibilidades de quem vai tecendo a sua história. O mundo em si não tem sentido sem o nosso olhar que lhe atribui identidade, sem o nosso pensamento que lhe confere alguma ordem.
Viver, como talvez morrer, é recriar-se : a vida não está aí apenas para ser suportada nem vivida, mas elaborada. Eventualmente reprogramada. Conscientemente executada. Muitas vezes, ousada.
Parece fácil: "escrever a respeito das coisas é fácil", já me disseram. Eu sei. Mas não é preciso realizar nada espetacular, nem desejar nada excepcional. Não é preciso nem mesmo ser brilhante, importante, admirado. Para viver de verdade, pensando e repensando a existência, para que ela valha a pena, é preciso ser amado; e amar; e amar-se. Ter esperança; qualquer esperança.Questionar o que nos é imposto, sem rebeldias insensatas mas sem demasiada sensatez. Saborear o bom, mas aqui e ali enfrentar o ruim. Suportar sem se submeter, aceitar sem se humilhar, entregar-se sem renunciar a si mesmo e à possível dignidade.
Sonhar, porque se desistimos disso apaga-se a última claridade e nada mais valerá a pena. Escapar, na liberdade do pensamento, desse espírito de manada que trabalha obstinadamente para nos enquadrar, seja lá no que for. E que o mínimo que a gente faça seja, a cada momento, o melhor que afinal se conseguiu fazer.
A poética letra da música de Alvin L, intitulada: Eu não sei dançar na bela voz de Marina Lima, remete a uma sensação de um amor solitário! Porque muitas vezes nosso ritmo é mais acelerado e inquieto. E temos uma ansiedade louca em busca de paixões impossíveis, ou melhor, incompatíveis! Prefiro acreditar nas incompatibilidades, que nas impossibilidades! “E Tudo que eu posso te dar é solidão com vista pro mar..." “Eu não sei dançar tão devagar pra te acompanhar...” Questiono: O que seria dançar devagar? Rotina, apatia ou apenas um tipo de comportamento de pessoas normais. Aquelas que não ousam, ou temem se arriscarem a viver as grandes paixões... Pois isso poderia significar saírem do eixo estabelecido pelo equilíbrio em que se apoiam. E estas “grandes paixões” podem ser atribuídas aos amores, às coisas, aos sonhos. Ou até uma conquista pelo amor próprio! Acredito que deixar passar a vida, e nunca se arriscar as novas possibilidades de experimentar alguma mudança, é um grande marasmo! Assim, muitos acabam presos em seus próprios conceitos. E esta é a grande solidão com vista pro mar. Mas esta é apenas a minha opinião diante deste tema. Convido você a se expressar aqui. Sua opinião ou crítica faz toda a diferença!
Além das suas participações de destaques especiais nas telenovelas de grande audiência na TV brasileira.
É autor da música Amélia, em parceria com Ataulfo Alves.
Em tributo a este grande artista, uma pequena desconstrução de sua máxima obra musical intitulada: Amélia.
Que não me condenem os saudosistas:
Mais com todo respeito à Letra da Música Original, que trata da mulher subalterna a sociedade e ao sexo oposto.
Uma reverência a desconstrução da mesma, pela cantora/compositora
Pitty em: Desconstruindo Amélia;
Que só poderia ser desconstruída e focada para tal versão, tratando-se de um clássico no cenário da nossa música considerando as grandes transformações e mudanças em nossa história social!
Ai que saudade da Amélia - Mário Lago
Nunca viu fazer tanta exigência
Nem fazer o que você me faz
Você não sabe o que é consciência
Nem vê que eu sou um pobre rapaz
Você só pensa em luxo e riqueza
Tudo que você vê você quer
Ai, meu Deus, que saudade da Amélia
Aquilo sim é que era mulher
Às vezes passava fome ao meu lado
E achava bonito não ter o que comer
E quando me via contrariado
Dizia: Meu filho, que se há de fazer
Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia é que era mulher de verdade
Porém estas "Amélias", décadas depois são bem diferentes da protagonista da obra original de Mário Lago e Ataulfo Alves.
Será que ainda haverá alguma Amélia que resista às mudanças no decorrer do tempo?
Ou melhor, elas evoluíram ou foram obrigadas a mudar seus comportamentos, perante uma sociedade democrática que hoje as inclui no acirrado mercado de trabalho e possibilitando-as serem eleitas como Presidentas?
Se houver alguma discordância deste contraponto, assinem por aqui!
Mais deixo bem claro que todas estas "Amélias" têm seus respeitosos valores, logicamente cabíveis na época em que viveram!
O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o
mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se
perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou
pensando."
Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de
sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem
a idéia.
O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos
estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos
bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e
sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas
vezes, o bobo é um Dostoievski.
Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um esconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o
aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é
fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não
funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão
estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em
contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e, portanto
estar tranqüilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser
ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.
Aviso:Não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada
de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou
dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"
Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!
Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo
tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.
O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos.
Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os
espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em
compensação os bobos ganham a vida. Bem aventurados os bobos porque sabem sem
que ninguém desconfie. Aliás, não se importam que saibam que eles sabem.
Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com
burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah,
quantos perdem por não nascer em Minas!
Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase
impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz
de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.
Um autor célebre, calculando os bens e os males da vida humana, e comparando as duas somas, achou que a última ultrapassa muito a primeira, e que tomando o conjunto, a vida era para o homem um péssimo presente. Não fiquei surpreendido com a conclusão; ele tirou todos os seus raciocínios da constituição do homem civilizado. Se subisse até ao homem natural, pode-se julgar que encontraria resultados muito diferentes; porque perceberia que o homem só tem os males que se criou para si mesmo, o que à natureza se faria justiça. Não foi fácil chegarmos a ser tão desgraçados. Quando, de um lado, consideramos o imenso trabalho dos homens, tantas ciências profundas, tantas artes inventadas, tantas forças empregadas, abismos entulhados, montanhas arrasadas, rochedos quebrados, rios tornados navegáveis, terras arroteadas, lagos cavados, pantanais dissecados, construções enormes elevadas sobre a terra, o mar coberto de navios e marinheiros, e quando, olhando do outro lado, procuramos, meditando um pouco as verdadeiras vantagens que resultaram de tudo isso para a felicidade da espécie humana, só nos podemos impressionar com a espantosa desproporção que reina entre essas coisas, e deplorar a cegueira do homem, que, para nutrir o seu orgulho louco, não sei que vã admiração de si mesmo, o faz correr ardorosamente para todas as misérias de que é susceptível e que a benfazeja natureza havia tomado cuidado em afastar dele.
Os homens são maus, uma triste e contínua experiência dispensa a prova; entretanto, o homem é naturalmente bom, creio havê-lo demonstrado. Que será, pois, que o pode ter depravado a esse ponto, senão as mudanças sobrevindas na sua constituição, os progressos que fez e os conhecimentos que adquiriu? Que se admire quanto se queira a sociedade humana, não será menos verdade que ela conduz necessariamente os homens a se odiarem entre si à proporção do crescimento dos seus interesses, a se retribuir mutuamente serviços aparentes, e a se fazer efectivamente todos os males imagináveis. Que se pode pensar de um comércio em que a razão de cada particular lhe dita máximas directamente contrárias àquelas que a razão pública prega ao corpo da sociedade, e em que cada um tira os seus lucros da desgraça do outro?Não há, talvez, um homem abastado ao qual os seus herdeiros ávidos, e muitas vezes os seus próprios filhos, não desejem a morte, secretamente. Não há um navio no mar cujo naufrágio não constituísse uma boa notícia para algum negociante; uma só casa que um devedor de má fé não quisesse ver queimada com todos os documentos; um só povo que não se regozijasse com os desastres dos vizinhos. É assim que tiramos vantagens do prejuízo dos nossos semelhantes, e que a perda de um faz quase sempre a prosperidade do outro. Mas, o que há de mais perigoso ainda é que as calamidades públicas são a expectativa e a esperança de uma multidão de particulares: uns querem as moléstias, outros, a mortalidade; outros, a guerra; outros, a fome.
(...) O homem selvagem, quando acabou de comer, está em paz com toda a natureza, e é amigo de todos os seus semelhantes. Se, algumas vezes, tem de disputar o seu alimento, não chega nunca ao extremo sem ter antes comparado a dificuldade de vencer com a de encontrar noutro lugar a sua subsistência; e, como o orgulho não se mistura ao combate, ele termina por alguns socos. O vencedor come e o vencido vai procurar fortuna noutra parte, e tudo está pacificado. Mas, no homem da sociedade, é tudo bem diferente; trata-se, primeiramente, de prover ao necessário, depois, ao supérfluo. Em seguida, vêm as delícias, depois as imensas riquezas, e depois súbditos e escravos. Não há um momento de descanso. O que há de mais original é que, quanto menos as necessidades são naturais e prementes, tanto mais as paixões aumentam, e o que é pior, o poder de as satisfazer. De sorte que, após longas prosperidades, depois de haver devorado muitos tesouros e desolado muitos homens, o meu herói acabará por tudo arruinar, até que seja o único senhor do universo. Tal é, abreviadamente, o quadro moral, senão da vida humana, pelo menos das pretensões secretas do coração de todo homem civilizado.
Comparai, sem preconceitos, o estado do homem civilizado com o do homem selvagem, e investigai, se o puderdes, como além da sua maldade, das suas necessidades e das suas misérias, o primeiro abriu novas portas à miséria e à morte. Se considerardes os sofrimentos do espírito que nos consomem, as paixões violentas que nos esgotam e nos desolam, os trabalhos excessivos de que os pobres estão sobrecarregados, a moleza ainda mais perigosa à qual os ricos se abandonam, uns morrendo de necessidades e outros de excessos; se pensardes nas monstruosas misturas de alimentos, na sua perniciosa condimentação, nos alimentos corrompidos, nas drogas falsificadas, nas velhacarias dos que as vendem, nos erros daqueles que as administram, no veneno do vasilhame no qual são preparadas; se prestardes atenção nas moléstias epidêmicas oriundas da falta de ar entre multidões de seres humanos reunidos, nas que ocasionam a nossa maneira delicada do viver, as passagens alternadas das nossas casas para o ar livre, o uso de roupas vestidas ou despidas sem precauções, e todos os cuidados que a nossa sensualidade excessiva transformou em hábitos necessários, e cuja negligência ou privação nos custa imediatamente a vida ou a saúde; se puserdes em linha de conta os incêndios e os tremores de terra que, consumindo ou derrubando cidades inteiras, fazem morrer os habitantes aos milhares; em uma palavra, se reunirdes os perigos que todas essas causas acumulam continuamente sobre as nossas cabeças, sentireis como a natureza nos faz pagar caro o desprezo que temos dado às suas lições.
Jean-Jacques Rousseau, In 'Discurso Sobre a Origem da Desigualdade'
Eu nascia da surpresa, Agora na previsão; Eu não saia de casa, Agora vou para creche; Eu namorava alguém, Agora estou ficando; Eu decorava tudo, Agora uso o Google; Eu jantava na hora da família, Agora do microondas; Eu fazia passeatas, Agora nem serenata; Eu escolhia uma faculdade, Agora estudo em várias; Eu queria ser doutor, Agora inventor; Eu saia de casa cedo, Agora sou canguru; Eu casava lá pelos vinte, Agora quase aos quarenta; Eu jamais me separava, Agora só divorcio; Eu me aposentava aos cinqüenta, Agora mudo de profissão; Eu morria aos setenta, Agora tenho morte lenta; Se alguém me perguntar o que vou fazer agora, Antes por favor me responda: Afinal que raios é a globalização?
Jorge Forbes
Video de DIvulgação do módulo "A psicanálise do século XXI. Lacan para desesperados da crise" Café Filosófico 2009
Eu gosto de gente que vibra, que não tem de ser empurrada, que não tem de dizer que faça as coisas, mas que sabe o que tem que fazer e que faz. A gente que cultiva seus sonhos até que esses sonhos se apoderam de sua própria realidade.
Eu gosto de gente com capacidade para assumir as conseqüências de suas ações, de gente que arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, que se permite, abandona os conselhos sensatos deixando as soluções nas mãos de Deus.
Gosto de gente que é justa com sua gente e consigo mesma, da gente que agradece o novo dia, as coisas boas que existem em sua vida, que vive cada hora com bom animo dando o melhor de si, agradecido de estar vivo, de poder distribuir sorrisos, de oferecer suas mãos e ajudar generosamente sem esperar nada em troca.
Eu gosto da gente capaz de me criticar construtivamente e de frente, mas sem me lastimar ou me ferir.
Da gente que tem tato.
Gosto da gente que possui sentido de justiça.
A estes chamo de meus amigos.
Me gosta a gente que sabe a importância da alegria e a pratica.
Da gente que por meio de piadas nos ensina a conceber a vida com humor.
Da gente que nunca deixa de ser animada.
Gosto de gente que nos contagia com sua energia.
Gosto de gente sincera e franca, capaz de se opor com argumentos razoáveis a qualquer decisão.
Gosto de gente fiel e persistente, que no descansa quando se trata de alcançar objetivos e ideias.
Me encanta a gente de critério, a que não se envergonha em reconhecer que se equivocou ou que não sabe algo.
De gente que, ao aceitar seus erros, se esforça genuinamente por não voltar a cometê-los.
De gente que luta contra adversidades. Gosto de gente que busca soluções.
Gosto da gente que pensa e medita internamente.
De gente que valoriza seus semelhantes, não por um estereótipo social, nem como se apresentam.
De gente que não julga, nem deixa que outros julguem.
Gosto de gente que tem personalidade.
Me encanta a gente que é capaz de entender que o maior erro do ser humano é tentar arrancar da cabeça aquilo que não sai do coração.
A sensibilidade, a coragem, a solidariedade, a bondade, o respeito, a tranqüilidade, os valores, a alegria, a humildade, a fé, a felicidade, o tato, a confiança, a esperança, o agradecimento, a sabedoria, os sonhos, o arrependimento, e o amor para com os demais e consigo próprio são coisas fundamentais para se chamar GENTE.
Com gente como essa, me comprometo, para o que seja, pelo resto de minha vida… já que, por tê-los junto de mim, me dou por bem retribuído.
Obrigado por ser parte desta gente!
Impossível ganhar sem saber perder.
Impossível andar sem saber cair.
Impossível acertar sem saber errar.
Impossível viver sem saber reviver.
A glória não consiste em não cair nunca, mas em levantar-se todas as vezes que seja necessário.
E isso é algo que muito pouca gente tem o privilégio de experimentar!
Bem aventurados aqueles que já conseguiram receber com a mesma naturalidade o ganhar e o perder, o acerto e o erro, o triunfo e a derrota…
Mário Benedetti
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Compartilho com todos aqueles que estão despidos de preconceitos, intolerância e a rudeza do falso moralismo.
Acho que foi o Hemingway quem disse que olhava cada coisa à sua volta como se a visse pela última vez. Pela última ou pela primeira vez? Pela primeira vez foi outro escritor quem disse. Essa idéia de olhar pela última vez tem algo de deprimente. Olhar de despedida, de quem não crê que a vida continua, não admira que o Hemingway tenha acabado como acabou.
Se eu morrer, morre comigo um certo modo de ver, disse o poeta. Um poeta é só isto: um certo modo de ver. O diabo é que, de tanto ver, a gente banaliza o olhar. Vê não-vendo. Experimente ver pela primeira vez o que você vê todo dia, sem ver. Parece fácil, mas não é. O que nos cerca, o que nos é familiar, já não desperta curiosidade. O campo visual da nossa rotina é como um vazio.
Você sai todo dia, por exemplo, pela mesma porta. Se alguém lhe perguntar o que é que você vê no seu caminho, você não sabe. De tanto ver, você não vê. Sei de um profissional que passou 32 anos a fio pelo mesmo hall do prédio do seu escritório. Lá estava sempre, pontualíssimo, o mesmo porteiro. Dava-lhe bom-dia e às vezes lhe passava um recado ou uma correspondência. Um dia o porteiro cometeu a descortesia de falecer.
Como era ele? Sua cara? Sua voz? Como se vestia? Não fazia a mínima idéia. Em 32 anos, nunca o viu. Para ser notado, o porteiro teve que morrer. Se um dia no seu lugar estivesse uma girafa, cumprindo o rito, pode ser também que ninguém desse por sua ausência. O hábito suja os olhos e lhes baixa a voltagem. Mas há sempre o que ver. Gente, coisas, bichos. E vemos? Não, não vemos.
Uma criança vê o que o adulto não vê. Tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo. O poeta é capaz de ver pela primeira vez o que, de fato, ninguém vê. Há pai que nunca viu o próprio filho. Marido que nunca viu a própria mulher, isso existe às pampas. Nossos olhos se gastam no dia-a-dia, opacos. É por aí que se instala no coração o monstro da indiferença.
Otto Lara Resende
Título Original:Vista cansada
Texto publicado no jornal “Folha de S. Paulo”, edição de 23 de fevereiro de 1992.
Bichos polêmicos sem o querer, porque sábios, mas
inquietantes, talvez por isso. Nada é mais incômodo que o silencioso bastar-se
dos gatos. O só pedir a quem amam. O só amar a quem os merece. O homem quer o
bicho despojado, submisso, cheio de súplica, temor, reverência, obediência. O
gato não satisfaz as necessidades doentias do amor. Só as saudáveis. Lembrei,
então, de dizer, dos gatos, o que a observação de alguns anos me deu. Quem
sabe, talvez, ocorra o milagre de iluminar um coração a eles fechado? Quem
sabe, entendendo-os melhor, estabelece-se um grau de compreensão, uma
possibilidade de luz e vida onde há ódio e temor? Quem sabe São Francisco de
Assis não está por trás do Mago Merlin, soprando-me o artigo?
Já viu gato amestrado, de chapeuzinho ridículo, obedecendo
às ordens de um pilantra que vive às custas dele? Não! Até o bondoso elefante
veste saiote e dança a valsa no circo. O leal cachorro no fundo compreende as
agruras do dono e faz a gentileza de ganhar a vida por ele. O leão e o tigre se
amesquinham na jaula. Gato não. Ele só aceita uma relação de independência e
afeto. E como não cede ao homem, mesmo quando dele dependente, é chamado de
arrogante, egoísta, safado, espertalhão ou falso. "Falso", porque não
aceita a nossa falsidade com ele e só admite afeto com troca e respeito pela
individualidade. O gato não gosta de alguém porque precisa gostar para se
sentir melhor. Ele gosta pelo amor que lhe é próprio, que é dele e ele o dá se
quiser.
O gato devolve ao homem a exata medida da relação que dele
parte. Sábio, é espelho. O gato é zen. O gato é Tao. Ele conhece o segredo da
não-ação que não é inação. Nada pede a quem não o quer. Exigente com quem ama,
mas só depois de muito certificar-se. Não pede amor, mas se lhe dá, então ele
exige. Sim, o gato não pede amor. Nem depende dele. Mas, quando o sente, é
capaz de amar muito. Discretamente, porém sem derramar-se. O gato é um italiano
educado na Inglaterra. Sente como um italiano, mas se comporta como um lorde
inglês.
Quem não se relaciona bem com o próprio inconsciente não
transa o gato. Ele aparece, então, como ameaça, porque representa essa relação
precária do homem com o (próprio) mistério. O gato não se relaciona com a
aparência do homem. Ele vê além, por dentro e pelo avesso. Relaciona-se com a essência.
Se o gesto de carinho é medroso ou substitui inaceitáveis (mas existentes)
impulsos secretos de agressão, o gato sabe. E se defende do afago. A relação
dele é com o que está oculto, guardado e nem nós queremos, sabemos ou podemos
ver. Por isso , quando surge nele um ato de entrega, de subida no colo ou
manifestação de afeto, é algo muito verdadeiro, que não pode ser desdenhado. É
um gesto de confiança que honra quem o recebe, pois significa um julgamento.
O homem não sabe ver o gato, mas o gato sabe ver o homem. Se
há desarmonia real ou latente, o gato sente. Se há solidão, ele sabe e atenua
como pode (ele que enfrenta a própria solidão de maneira muito mais valente que
nós). Se há pessoas agressivas em torno ou carregadas de maus fluidos, ele se afasta.
Nada diz, não reclama. Afasta-se. Quem não o sabe "ler" pensa que
"ele não está ali. Presente ou ausente, ele ensina e manifesta algo. Perto
ou longe, olhando ou fingindo não ver, ele está comunicando códigos que nem
sempre (ou quase nunca) sabemos traduzir.
O gato vê mais e vê dentro e além de nós. Relacionam-se com
fluidos, auras, fantasmas amigos e opressores. O gato é médium, bruxo,
alquimista e parapsicólogo. É uma chance de meditação permanente ao nosso lado,
a ensinar paciência, atenção, silêncio e mistério. O gato é um monge portátil à
disposição de quem o saiba perceber. Monge, sim, refinado, silencioso,
meditativo e sábio monge, a nos devolver as perguntas medrosas esperando que
encontremos o caminho na sua busca, em vez de o querer preparado, já conhecido
e trilhado. O gato sempre responde com uma nova questão, remetendo-nos à
pesquisa permanente do real, à busca incessante , à certeza de que cada segundo
contém a possibilidade de criatividade e de novas inter-relações, infinitas,
entre as coisas.
O gato é uma lição diária de afeto verdadeiro e fiel. Suas
manifestações são íntimas e profundas. Exigem recolhimento, entrega, atenção.
Desatentos não agradam os gatos. Bulhosos os irritam. Tudo o que precise de
promoção ou explicação, quer afirmação. Vive do verdadeiro e não se ilude com
aparências. Ninguém em toda natureza aprendeu a bastar-se (até na higiene) a si
mesmo como o gato!Lição de sono e de musculação, o gato nos ensina todas as
posições de respiração ioga. Ensina a dormir com entrega total e diluição
recuperante no Cosmos. Ensina a espreguiçar-se com a massagem mais completa em
todos em todos os músculos, preparando-os para a ação imediata. Se os
preparadores físicos aprendessem o aquecimento do gato, os jogadores reservas
não levariam tanto tempo (quase 15 minutos) se aquecendo para entrar em campo. O gato sai do sono
para o máximo de ação, tensão e elasticidade num segundo. Conhece o desempenho
preciso e milimétrico de cada parte do seu corpo, a qual ama e preserva como a
um templo.
Lição de saúde sexual e sensualidade. Lição de envolvimento
amoroso com dedicação integral de vários dias. Lição de organização familiar e
de definição de espaço próprio e território pessoal. Lição de anatomia,
equilíbrio, desempenho muscular. Lição de salto. Lição de silêncio. Lição de
descanso. Lição de introversão. Lição de contato com o mistério, com o escuro,
com a sombra. Lição de religiosidade sem ícones. Lição de alimentação e
requinte. Lição de bom gosto e senso de oportunidade. Lição de vida, enfim, a
mais completa, diária, silenciosa, educada, sem cobranças, sem veemências, sem
exigências.
O gato é uma chance de interiorização e sabedoria posta pelo
mistério à disposição do homem.
Artur da Távola
"A verdadeira bondade do homem só pode se manifestar com toda a pureza, com toda a liberdade, em relação aqueles que não
representam nenhuma força.
O verdadeiro teste moral da humanidade
(o mais radical, num nível tão profundo que escapa ao nosso olhar)
são as relações com aqueles que estão à nossa mercê: Os animais.
É aí que se produz o maior desvio do homem, derrota