Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada,quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem...
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
A Princesa Adormecida, se espera, dormindo espera...
Sonha em morte a sua vida.
E orna-lhe a fronte esquecida, verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado, sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado, ele dela é ignorado, ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o destino...
Ela dormindo encantada, ele buscando-a sem tino...
Pelo processo divino que faz existir a estrada.
E, se bem que seja obscuro tudo pela estrada fora...
E falso, ele vem seguro, vencendo estrada e muro,
chega onde em sono ela mora.
E, inda tonto do que houvera, a cabeça, em maresia, ergue a mão, e encontra hera.
E vê que ele mesmo era...
A Princesa que dormia.
Fernando Pessoa
E assim vêdes, meu Irmão, que as verdades
que vos foram dadas no Grau de Neófito, e
aquelas que vos foram dadas no Grau de Adepto
Menor, são, ainda que opostas, a mesma verdade.
(Do Ritual Do Grau De Mestre Do Átrio
Na Ordem Templária De Portugal)


